LGBTQIA+: a complexa realidade que envolve a nutrição e a saúde de pessoas trans
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LGBTQIA+: a complexa realidade que envolve a nutrição e a saúde de pessoas trans

28 de Junho de 2022

LGBTQIA+: a complexa realidade que envolve a nutrição e a saúde de pessoas trans

Algumas populações LGBTQIA+ têm necessidades nutricionais únicas e complexas que podem mudar ao longo da vida. As necessidades únicas das pessoas que são transgêneros desafiam as recomendações dietéticas e nutricionais baseadas na tradicional e enviesada divisão por sexo — masculino e feminino; a qual em si já apresenta a exclusão de estados intersexo, que têm sido cada vez mais discutido por organizações profissionais de nutrição.

Neste 28 de junho, Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, além de ser uma resposta coletiva à LGBTIAfobia, a data também traz um alerta sobre as disparidades de saúde ligadas ao estigma social, discriminação e negação de seus direitos civis e humanos. Há 32 anos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou o lançamento da Classificação Internacional de Doenças (CID) com a retirada da homossexualidade da lista de “distúrbios mentais” e, assim, reconhecendo que a orientação afetivo-sexual não poderia ser mais considerada uma doença.

No Brasil, a então chamada ‘opção sexual’ – hoje, chamada de orientação afetivo-sexual não-hétero, deixou de ser considerada doença em 1985 pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP). Mas embora o país tenha se adiantado à OMS, ainda está ultrapassado quando o assunto é política voltada para a saúde da população LGBTQIA+. As barreiras vão desde a discriminação direta e microagressões em consultórios médicos até encontrar profissionais de saúde que conheçam as necessidades médicas da população LGBT.

Para a nutricionista Ísis Gois, que é mulher trans, pessoas trans enfrentam experiências sociais, ambientais e físicas que podem influenciar em transtornos relacionados à saúde mental e física, como a depressão e distúrbios alimentares. Por exemplo, embora nem todas as pessoas trans experimentem disforia de gênero, muitas sofrem – e estão sujeitas a um maior julgamento de seus corpos. O que coloca a alimentação, em alguns casos, como uma preocupação.

“Sabemos que a utilização de dietas específicas fora de uma necessidade, como para uma patologia ou dietoterapia, que são necessárias, são falhas. E isso pode trazer grandes agravos psicossociais e reduzir o contato da pessoa com outras, isso porque a comida sempre vai estar envolvida e, muitas vezes, não é o tipo de comida que ela quer comer para modular seu corpo”, explica.

A opinião da Isis também é compartilhada pelo nutricionista Igor Oliveira Trindade, de 26 anos. Para ele, a alimentação desordenada e a insatisfação corporal, associada à discriminação e o estigma de gênero e a falta de acesso à saúde, trazem efeitos colaterais devastadores relacionados à nutrição.

“As consequências deste ideal podem ser um comer transtornado, doenças como o diabetes mellitus e hipertensão arterial sistêmica, além de transtornos alimentares e deficiências nutricionais”, completou.

Pessoas trans podem enfrentar muitos dos mesmos fatores de risco que pessoas cis, como trauma e insegurança alimentar, mas podem ser mais propensas a experimentá-los, sobretudo diante de uma sociedade que ainda precisa aprender a lidar de maneira mais empática com a população LGBTQIA+. Essas disparidades sociais são refletidas no acesso à saúde da população trans no Brasil.

“A população trans, travestis ou de pessoas não-binárias, que possuem uma expressão de gênero que, às vezes, não é vista como normativa na sociedade, pode não acessar de forma igualitária os serviços de saúde”, explica Ísis. Ainda de acordo com ela, o acesso à atenção integral à saúde de pessoas LGBTQIA+ pode ser ainda mais desafiador, principalmente por serem vítimas de violência.

“A violência na hora de um atendimento ginecológico pode acontecer com mulheres cis lésbicas e bissexuais, homens trans e pessoas não-binárias por falta de conhecimento, anamnese e de profissionais que estejam capacitados para o atendimento dessa população”, conta.

Embora existam diretrizes para informar os cuidados médicos e psicológicos de pessoas LGBTQ+, poucos dados científicos estão disponíveis para informar diretrizes práticas baseadas em evidências para profissionais de nutrição e saúde que trabalham com esses pacientes.

No entanto, Igor cita a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, lançada em 2013 pelo Ministério da Saúde, como “um marco importante da luta das associações que se interessam pelo tema”. Porém, ele faz ressalvas: “a política não dá diretrizes específicas sobre saúde, muito menos em relação a alimentação e nutrição”.

Assim como os nutricionistas Ísis e Igor, a conselheira do Conselho Regional de Nutricionistas da 3ª Região, Vera Salvo também atenta para a importância de um sistema que coloque em prática a integralidade e o acolhimento das pessoas LGBTQIA+. De acordo com ela, embora o conjunto de normativas exista, “é preciso sair do papel para que a descriminação estrutural e institucional no sistema de saúde seja rompida”. 


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