Notícia
Como é sua relação com a comida?
08 de Junho de 2021
Comer se tornou algo complicado para a maioria das pessoas. E isso por conta das diversas informações às quais somos expostos diariamente. Aprendemos em redes sociais, sites e televisão que, para se alimentar bem, devemos restringir, cortar, diminuir e passar vontade. Mas será mesmo que isso é sinônimo de bem-estar? Se nos aprofundarmos na construção de nossas relações com a alimentação, perceberemos que comer é muito mais do que ingerir nutrientes e calorias; comer é, sobretudo uma atividade que envolve emoções, memórias e afeto.
A dicotomização alimentar, infelizmente muitas vezes imposta também por nutricionistas, é uma grande perpetuadora das relações simplistas que mantemos com a comida. Quando reduzimos alimentos a bons e ruins, saudáveis e não saudáveis, permitidos e proibidos, deixamos de lado fatores importantes que enriquecem o ato de comer.
Quando nos atemos à complexidade do ato de se alimentar, percebemos que fatores psicológicos, sociais, culturais, genéticos, biológicos e familiares impactam enormemente na maneira pela qual construímos nossas decisões sobre comer. Nenhum alimento sozinho pode fazer alguém engordar ou emagrecer sem que levemos em conta todos os aspectos presentes no ato de nutrir-se.
O nutricionista pode e deve ser o profissional que analisa hábitos alimentares de pacientes, discutindo e propondo junto com eles mudanças na maneira pela qual se alimentam. Podemos ser perpetuadores de boas estratégias para que o comer seja uma atividade de conexão com nós mesmos, desde a conexão com o corpo e seus sinais até a conexão a aspectos emocionais da alimentação. Nossas memórias alimentares, por exemplo, são formadas por histórias, experiências e afetos que não conseguem ser mensurados e reduzidos a calorias e nutrientes.
A maneira de nos relacionarmos com a comida interfere no sentido que damos à alimentação, seja qual for o alimento. Os sentimentos, pensamentos e crenças atrelados ao ato de comer refletem o comportamento alimentar. A maneira que nos relacionamos com a alimentação é moldada a partir de um construtor pessoal e único.
A aproximação das pessoas a uma relação verdadeiramente mais saudável com o comer deve ser o objetivo central de qualquer abordagem nutricional. Não devemos promover, a nenhum custo, punição e coação, seja por meio de restrições alimentares sem necessidade, seja por meio de terror nutricional e criminalização do ato de comer.
É preciso entender que comemos comida: pão com queijo, arroz e feijão! E devemos fortalecer essa construção. Comer é uma atividade central na vida de todos. É, sem dúvida, fundamental para nos mantermos vivos, mas também é um ato de afeto, um ato político e cultural. O papel do nutricionista é essencial na conservação dessa perspectiva holística e humana do ato de comer. Todos os alimentos podem fazer parte de uma alimentação normal e saudável. Mais importante do que o que se come, é como se come.
Marcela Kotait, nutricionista (CRN3 25281)
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